segunda-feira, 12 de junho de 2017

Das escutas aos e-mails

Há sempre dois grupos. Os que se dedicam a indignar-se com a forma. E os que se dedicam a indignar-se com o conteúdo.
Há uns anos tivemos as escutas. E lá tivemos o grupo que se dedicou a discutir a ilegalidade da forma («é ilegal!», zurziam, «não valem como prova», esbracejavam). E depois tivemos o grupo da substância, que insistia na indignação quanto ao que se testemunhava naquelas conversas gravadas («se fosse o meu clube, eu tinha vergonha!», «ganhar assim, não quero!», ouvíamos à boca cheia).

Hoje temos os e-mails (até ver, porque há ameaças de mais revelações). Pois lá temos o grupo que só fala de quão grave é a violação do correio privado («é gravíssimo num Estado de direito!», «é preciso apurar como é possível a violação de correspondência privada!», dizem pelos canais costumeiros). E, naturalmente, forma-se o outro grupo, o da substância, que se indigna com o que as conversas revelam («está lá tudo!», «é uma rede instalada de corrupção»!).

O curioso é que entre ontem e hoje são (quase todos) os mesmos. Se olharmos aos da forma e aos da substância, estão lá os mesmos. A diferença – pequena diferença – é que trocaram de lado.

Eu declaro-me já, para que não sobejem dúvidas. Das escutas aos e-mails, acho indigna a violação «formal» num Estado de direito, e envergonha-me a substância (que no que revela, é rigorosamente a mesma!).


Para muito boa gente, não é fácil reconhecer isto.

#Saladejogos

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