Para a enorme falange de agoirentos sobre o
fenómeno Macron – eu próprio terei os meus agoiros (que serão mais dúvidas) – as coisas não têm corrido bem. Ou, pelo menos, não se têm
confirmado. E valerá a pena tentar perceber porquê (independentemente da maior
ou menor identificação com o sentido do discurso e do projecto).
A primeira nota a assinalar é, obviamente, a do
enorme e reiterado sucesso eleitoral. Depois das duas voltas nas presidenciais,
as eleições deste fim-de-semana foram já o 3.º acto eleitoral do qual Macron
saiu inquestionavelmente como grande vencedor.
A segunda nota (e agora já não seguirei uma
sequência hierarquizada) é a da juventude. Já o disse na primeira ocasião, mas
reitero. Os 39 anos de Macron, se estivéssemos nos anos 70, seriam uma
banalidade. Em 2017, é um facto permanentemente assinalado, o que diz muito de
quão adiadas poderão estar tantas vocações políticas, reféns de um preconceito absurdo
e – pior – de lugares captados pelos mesmos de sempre.
Em terceiro lugar – e porque ligado à nota de
«juventude» do ponto anterior – está o efeito renovação (numa tripla dimensão):
por um lado, e como se prevê, é inspirador que um parlamento receba, de uma
vez, mais de 50% deputados debutantes (independentemente da idade desses
«novos» protagonistas); por outro, é louvável que centenas de cidadãos se
tenham predisposto a, pela primeira vez, se candidatarem e, uma vez eleitos,
servirem a causa pública através de um cargo político; e por outro lado ainda –
mesmo para quem, como eu, não conhece minimamente o universo de deputados da Assembleia
Nacional Francesa – aquele refrescamento do parlamento não se esgota na entrada
de novos deputados. Vai simetricamente colher também à saída de uns quantos que
tenderiam a eternizar-se naquelas cadeiras.
Uma quarta nota – talvez a mais relevante – diz
respeito ao discurso e modus operandi deste Movimento En Marche de Macron. A
sua afirmação, por muito complexa e difusa que seja a inspiração doutrinária
que a orienta, não tem sido alcançada na base de um programa e de um discurso
populista, centrado em promessas de facilidade, engajadas nos interesses corporativos
clássicos (que os haverá no movimento, não tenhamos ilusões). Esta
circunstância, que no fundo se traduz na sensação de que há ali um ímpeto genuíno
que resiste ao facilitismo, é porventura a maior lição desta ainda curta história.
Macron toca a musica que acha que as pessoas precisam de ouvir, e não a música do tipo panfletário que as pessoas querem ouvir (como baixar a idade da reforma,
subir as pensões, aumentar ou mesmo manter o número de funcionários públicos, reforçar
a soberania face a Bruxelas, etc). Parece uma frase feita, mas é disto que
estamos a precisar. E depois as pessoas julgam como entenderem. A lição está no
julgamento popular que, num quadro como este, até agora lhe tem sido destinado.
Vale a pena ser genuíno (rings the bell, senhora May?).
#Escritório
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