Morreram 64 pessoas. 64 pessoas. Já nem falo das
centenas de feridos, dos desalojados e da área ardida (que já chegariam para
nos indignar). Morreram 64 pessoas num incêndio em Portugal, há meia dúzia de
dias. Ainda estou incrédulo e indignado. E como se não bastasse o próprio
Ministério da Administração Interna não sabe – não sabe! – quantos serão os
desaparecidos. Estamos a falar de pessoas.
Com uma catástrofe de tamanha dimensão não podíamos
exigir menos que comportamentos irrepreensíveis das nossas autoridades. De
todas.
Das autoridades de comando – político, de
segurança, de socorro, militar – a quem se exige um comando forte, firme,
seguro. E até inspirador, porque o momento não é para menos. Mas não tivemos
nada disto. Só me apetece gritar. Não temos nem tivemos voz de comando. Já tivemos
contradições que cheguem. Já tivemos até contradições infantis, próprias de quem
está mais preocupado em se autojustificar e olha à verdade como um pormenor que
pode ou não ser útil (a história pronta da árvore cortada a meio por um raio é
quase um ícone desta tragédia). O Estado, no seu desnorte, nem sequer compareceu
ao funeral das primeiras vítimas que foram a enterrar.
Não sei que diga. Sinto-me um cidadão
desesperado. Só me apetece gritar.
Ainda teremos de ir mais a fundo (para percebermos
a política de cortes ou não cortes na prevenção, de cortes ou não cortes no dispositivo
de combate aos incêndios, de cortes ou não cortes na manutenção de sistemas de
segurança). Mas não nos libertam da sensação de que o IPMA falhou, o SIRESP
falhou, a GNR falhou, de que não temos nem tivemos MAI. É tudo tão grave que a
exigência de responsabilidades (a todos os níveis) soa-me a pouco.
Mas neste momento – que ainda
é o da prevenção imediata da propagação, e de reacção e combate ao fogo – fico-me
pelo grito que não consigo conter. Morreram 64 pessoas! Acudam-nos!#Escritório
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