quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A Casa Amaro!

 
- Faça o favor.
- Muito obrigado. Então o que tem para hoje?
- Não tem que se preocupar que o Sr. Miranda já tratou de tudo.

Fiquei descansado. Só me surpreendiam com razões para estar confiante. Aliás, confiante é pouco.
O estado incólume do estabelecimento. As mesas de madeira na diagonal. As paredes de cor branca amarelada, com várias demãos impostas pelo tempo e pela preocupação de manter tudo impecável.
Os armários de parede. Daqueles de sempre – que, tal como as mesas, eram de madeira boa e densa, com portas que empurramos para o lado, e onde se empilhavam os pratos e copos à confiança. O aparador no canto, impecavelmente limpo (suspeito que encerado há pouco tempo) daqueles que víamos em casa dos «nossos» avós – dos bons, antigos, com uma pedra mármore inteira, preenchida com garrafas e canecas de líquidos puros.

O cheiro era tudo. Era dele que me vinha a surpresa e a segurança da escolha. Só podia estar no local certo, ou como se diz nestes lugares sagrados, no local «justo» (não é nenhuma blasfémia sublinhar a sacralidade destes templos). Pressenti aqueles aromas autênticos que asseguram a nossa absoluta e total rendição. A lenha do forno. Sim, do forno. Do forno que tudo transforma. E porque é a lenha, transforma com outra sabedoria (quando falam em sabedoria dos antigos deve ser da lenha que estão a falar). O arroz, servido em repetidas e pequenas quantidades para chegar ao prato sempre quentinho, as batatas assadas e – sintam o rufar dos tambores – o cabrito tenro e meigo a fumegar. Já nem me lembrava que era assim! Passam os anos, comemos a mesma carne volta e meia. Gostamos. Às vezes gostamos mesmo muito. Mas perdemos a memória do que é um verdadeiro cabrito. Tenro, com sabor «à antiga» (não a velho!) e assado em forno a lenha (sim, daqueles com uma pequena porta pela qual se reforça o lume com mais duas ou três achas). Que delícia. Que nostalgia. E naquele lugar sagrado (insisto na sacralidade).

Tudo está lá como sempre esteve. Os clientes são os mesmos – que pelo nome são todos tratados, que eu bem ouvi! Das mesas e armários já falei. E a Dona Rosa – a delicada D. Rosa. O trato, a simpatia e o gosto com que nos servia confirmam plenamente a sabedoria que importa.

- Ó Dona Rosa, traga mais um café se faz favor. É que o primeiro foi por conta do cabrito. O próximo tratará desta sobremesa especial que nos poisou ainda quente sobre a mesa!
Pedi o segundo café pelo gosto de ser servido uma última vez pela Dona Rosa!
 
#Saladejantar

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