Os
adversários, os desencantados ou desinteressados – nos quais não me incluo,
faço a ressalva (sou militante!) – são indispensáveis em qualquer processo de
escolha da nova liderança partidária. Não serão o barómetro definitivo, mas são
pelo menos uma referência importante. É através deles que conseguimos perceber
melhor como somos vistos de fora, como e com quem somos mais ou menos temidos,
como e com quem teremos maior capacidade de penetração eleitoral.
Como
é próprio e natural, os militantes tendem a perder o distanciamento, a ceder
aos apelos da amizade pessoal, das sãs fidelidades construídas na partilha de
muitas disputas eleitorais. Valoriza-se muito – ou demasiado – a história
interna, a capacidade de gerar a adesão dos filiados, de unir as tropas.
Tais
qualidades são, sem qualquer dúvida, importantes e especialmente úteis na hora
da mobilização (a «hora da verdade», em que são sempre os mesmos que estão
disponíveis para dar o corpo ao manifesto). E são também manifestações boas e
relevantes, que podem e devem concorrer para as escolhas a fazer. Mas não podem
ser o móbil único de uma escolha tão séria e porventura decisiva. Não podemos
ficar reféns das nossas motivações pessoais ou internas que, quando vistas em
exclusivo e sem contemporizações, nos podem impedir de ver mais além, ou
simplesmente de ver o óbvio à frente dos nossos olhos.
Por
vezes, aquela personalidade que parece «servir» melhor os naturais anseios dos
militantes – ou que corresponde mais aos seus afectos (palavra tão em voga) –
não é necessariamente aquela que, em determinado momento histórico, melhor
atende às necessidades do partido.
Uma
coisa é ser popular internamente, outra diferente – e mais importante – é ser
popular, gerar adesão, ter capacidade de chegar mais longe, de passar mensagem,
fora do partido.
Se
é verdade que um partido se faz com os seus militantes, também é verdade que um
partido com um mínimo de ambição se faz para todos (e quase todos são não
militantes).
Nem sempre os partidos dispõem de uma personalidade
(ou personalidades) com essa capacidade de projectar o partido a uma escala
mais alargada. Ou porque tais personalidades não querem, ou porque não podem ou
mesmo porque pura e simplesmente não existem no universo de militantes que
reúnem a projecção e capacidades de liderança indispensáveis.
Há momentos, todavia, em que não só emerge essa
personalidade como ela se impõe com especiais e quase únicas características.
Assunção Cristas é essa personalidade.
Porque quer (e querer é importante, por muito que uma
vaga de fundo possa suplantar a eventual falta de vontade), porque é mulher (o
que seria uma boa novidade no próprio partido e geraria maior impacto no
potencial eleitorado), é mãe de família (assumindo essa condição como
definidora da sua personalidade, a que não é estranho o encanto que suscitou
quando protagonizou a primeira gravidez de uma ministra em funções), tem
experiência de governo (foi ministra com a tutela de dossiers de enorme
responsabilidade), tem experiência de administração pública (foi
directora-geral), tem experiência de gabinete (no Ministério da Justiça), tem
experiência e carreira académica (é doutorada em Direito e professora na
Faculdade de Direito da Universidade Nova), tem experiência parlamentar (eleita
três vezes deputada), é advogada e tem obra publicada.
No partido - de que é filiada há quase 10 anos (há
quanto tempo eram filiados Maria José Nogueira Pinto e Paulo Portas quando
disputaram a liderança no famoso congresso de 1998?) - é vice-presidente,
coordenou o programa eleitoral, integrou equipas de negociação ao mais alto
nível, foi cabeça de lista por Leiria. Não por acaso, desde que a «descobriu»,
Paulo Portas não mais a deixou de ter no seu inner circle.
E se mais fosse necessário, Assunção Cristas reúne
ainda duas qualidades que a recomendam especialmente para a liderança neste
preciso momento. A comunicação social reserva-lhe uma bonomia (para não dizer
simpatia) que fazem com que a mensagem, pela sua voz, passe sempre melhor. E
depois tem uma enorme empatia no contacto com as pessoas, desde as mais simples
às mais sofisticadas.
Termino como comecei. Para quem nos vê de fora não
tenham dúvidas que é para Assunção Cristas que olham. Desejando ou temendo.
Porque é quem mais seduz para lá do universo tradicional de eleitores do CDS.
#Escritório
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