sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Uma líder para o CDS

Os adversários, os desencantados ou desinteressados – nos quais não me incluo, faço a ressalva (sou militante!) – são indispensáveis em qualquer processo de escolha da nova liderança partidária. Não serão o barómetro definitivo, mas são pelo menos uma referência importante. É através deles que conseguimos perceber melhor como somos vistos de fora, como e com quem somos mais ou menos temidos, como e com quem teremos maior capacidade de penetração eleitoral.

Como é próprio e natural, os militantes tendem a perder o distanciamento, a ceder aos apelos da amizade pessoal, das sãs fidelidades construídas na partilha de muitas disputas eleitorais. Valoriza-se muito – ou demasiado – a história interna, a capacidade de gerar a adesão dos filiados, de unir as tropas.
Tais qualidades são, sem qualquer dúvida, importantes e especialmente úteis na hora da mobilização (a «hora da verdade», em que são sempre os mesmos que estão disponíveis para dar o corpo ao manifesto). E são também manifestações boas e relevantes, que podem e devem concorrer para as escolhas a fazer. Mas não podem ser o móbil único de uma escolha tão séria e porventura decisiva. Não podemos ficar reféns das nossas motivações pessoais ou internas que, quando vistas em exclusivo e sem contemporizações, nos podem impedir de ver mais além, ou simplesmente de ver o óbvio à frente dos nossos olhos.

Por vezes, aquela personalidade que parece «servir» melhor os naturais anseios dos militantes – ou que corresponde mais aos seus afectos (palavra tão em voga) – não é necessariamente aquela que, em determinado momento histórico, melhor atende às necessidades do partido.

Uma coisa é ser popular internamente, outra diferente – e mais importante – é ser popular, gerar adesão, ter capacidade de chegar mais longe, de passar mensagem, fora do partido.

Se é verdade que um partido se faz com os seus militantes, também é verdade que um partido com um mínimo de ambição se faz para todos (e quase todos são não militantes).

Nem sempre os partidos dispõem de uma personalidade (ou personalidades) com essa capacidade de projectar o partido a uma escala mais alargada. Ou porque tais personalidades não querem, ou porque não podem ou mesmo porque pura e simplesmente não existem no universo de militantes que reúnem a projecção e capacidades de liderança indispensáveis.

Há momentos, todavia, em que não só emerge essa personalidade como ela se impõe com especiais e quase únicas características. Assunção Cristas é essa personalidade.

Porque quer (e querer é importante, por muito que uma vaga de fundo possa suplantar a eventual falta de vontade), porque é mulher (o que seria uma boa novidade no próprio partido e geraria maior impacto no potencial eleitorado), é mãe de família (assumindo essa condição como definidora da sua personalidade, a que não é estranho o encanto que suscitou quando protagonizou a primeira gravidez de uma ministra em funções), tem experiência de governo (foi ministra com a tutela de dossiers de enorme responsabilidade), tem experiência de administração pública (foi directora-geral), tem experiência de gabinete (no Ministério da Justiça), tem experiência e carreira académica (é doutorada em Direito e professora na Faculdade de Direito da Universidade Nova), tem experiência parlamentar (eleita três vezes deputada), é advogada e tem obra publicada.

No partido - de que é filiada há quase 10 anos (há quanto tempo eram filiados Maria José Nogueira Pinto e Paulo Portas quando disputaram a liderança no famoso congresso de 1998?) - é vice-presidente, coordenou o programa eleitoral, integrou equipas de negociação ao mais alto nível, foi cabeça de lista por Leiria. Não por acaso, desde que a «descobriu», Paulo Portas não mais a deixou de ter no seu inner circle.

E se mais fosse necessário, Assunção Cristas reúne ainda duas qualidades que a recomendam especialmente para a liderança neste preciso momento. A comunicação social reserva-lhe uma bonomia (para não dizer simpatia) que fazem com que a mensagem, pela sua voz, passe sempre melhor. E depois tem uma enorme empatia no contacto com as pessoas, desde as mais simples às mais sofisticadas.

Termino como comecei. Para quem nos vê de fora não tenham dúvidas que é para Assunção Cristas que olham. Desejando ou temendo. Porque é quem mais seduz para lá do universo tradicional de eleitores do CDS.

Seria imperdoável que não víssemos cá dentro o que tão claro se vê de fora.

#Escritório

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