terça-feira, 12 de abril de 2016

Parábola no Serviço de Finanças

Sempre me intrigou a parábola do filho pródigo. Ainda por cima a mais popular.
Não é tanto a leitura que dela nos recomendam que me intriga - como todas as parábolas, se nelas meditarmos sem preconceito, são inúmeras as ilações práticas e justas.
A minha resistência à parábola advém de nela se consagrar a condenação do «certinho», para promover à categoria de herói o «pândego e gastador» . Eu sei que o que se pretende sinalizar é o valor do arrependimento. E ainda o desvalor do «bem» meramente rotineiro. Mas a verdade é que sem o bem rotineiro do filho mais velho não haveria colo para receber o mais novo arrependido.
Sempre que vou a um Serviço de Finanças e me vejo de senha na mão atrás de uns quantos contribuintes - o que por ofício me acontece frequentemente - sinto a tentação de me ir embora qual filho mais novo. E só não vou à minha vida, gozar até ao limite, porque me pesa a responsabilidade do filho mais velho.
Reconheço que talvez falte a este filho mais velho um coração aberto e generoso no cumprimento do dever diário. Mas se fossemos todos filhos pródigos isto havia de estar bonito (já para não falar das coimas e execuções a que nos expúnhamos)!
Já perceberam. Mesmo com os meus momentos de filho pródigo (quem não os tem?), tenho tendência para o filho mais velho. O tal da fidelidade rotineira e sensaborona. E se é verdade que os momentos de rasgo, os impulsos que mudam a história, se fazem mais à custa dos arrependimentos dos filhos pródigos, não é menos verdade que são os filhos mais velhos que aguentam o barco e lhe asseguram a estabilidade para que não afunde (e nos poupam às coimas e às execuções ...).
Continuo na fila...
#Saladeestar

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