quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Tomam-nos por estúpidos ...

A propósito das eleições no Brasil e de Bolsonaro – mas podia ser também sobre Trump, Marine Le Pen, o independentismo na Catalunha, e tutti quanti – o sentimento que me assalta repete-se invariavelmente.
Eu posso (ou não) estar nos antípodas destes personagens ou movimentos. Posso, por razões sérias ou menos sérias, querer o seu insucesso (ou sucesso) eleitoral. Posso até me estar a marimbar para a sua sorte e a do Brasil, dos EUA, de França ou da Catalunha.
O problema é que aqui no rectângulo negam-nos militantemente o «outro lado».
Não nos consentem os factos e o contexto dos dois lados para podermos interpretar. Vendem-nos a versão do preto e branco, do bom e mau, de Deus e do diabo. E douram um lado e só um.
Eu não quero dourados nem prateados. Eu quero os factos. Porque só com os factos é que eu posso perceber e formular o meu juízo.
Porque de certeza que há explicações que devíamos conhecer.
Porque raio milhões e milhões de americanos quiseram (e continuem a querer) o Trump na presidência em vez da Hillary? Porquê que quase um terço dos franceses se agrega à volta de Marine Le Pen? Porquê que os independentistas não têm uma maioria esmagadora nas eleições na Catalunha? E, agora, na disputa brasileira, porquê que o Bolsonaro não fica afastado liminarmente da segunda volta?
É que, reféns que estamos da selecção e da douta análise jornalística portuguesa, qualquer «outro» resultado é surpreendente e incompreensível. Tal como as coisas nos são apresentadas, a Hillary teria ganho com 99% dos votos, a Marine Le Pen já não teria voz, a Catalunha já seria um Estado independente com apoio de 99% dos catalães, e no Brasil o Bolsonaro seria reduzido a um dígito (com sorte!).
Não, meus amigos. Podem insistir no sectarismo jornalístico. Mas eu não alinho na versão de que os EUA, a França, a Catalunha, ou o Brasil, estão cheios de estúpidos. De milhões de estúpidos.
Às tantas o que é estúpido é insistirem nessa versão. E estupidamente não conseguem nem nos deixam (o que é mais grave) perceber o que se passa.
Não os tomem nem nos tomem por estúpidos!

#Escritório
#Saladeestar

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