quarta-feira, 3 de maio de 2017

Os importantes


Há um fenómeno frequente que me abespinhava (e agora já só me diverte de tão certo) nos seminários, conferências e apresentações. Como é da praxe, estes eventos anunciam orgulhosamente uma figura de proa, mais chamativa, a quem a organização entrega, por regra, ou a sessão inaugural ou a sessão de encerramento (são aqueles que no anúncio costumam ter um asterisco «a confirmar»). Tanto pode ser um ministro, como um secretário de estado (ou ex-ministro, ou ex-secretário de estado), ou um Presidente de qualquer coisa. Tem é de ser alguém que é mais conhecido ou, pelo menos, tem um lugar de prestígio (tenha ou não, seja ou não, é essa a presunção).
O discurso é sempre o mesmo. Sempre. Repito, sempre.
Na sessão inaugural, o dito senhor ou senhora começa com os agradecimentos, os elogios à organização, louva a oportunidade do tema, lamenta não poder ficar (tem mesmo pena, é sentido) e ausenta-se porque tem sempre (sempre!) um compromisso inadiável. Por vezes, com muita pena (diz o próprio) nem sequer é possível esperar pelo fim do painel inaugural (e do púlpito vai directo para o compromisso inadiável algures no mundo dos importantes). Quando a conferência é no Porto a retirada é quase sempre explicada com um «tenho que sair, vou agora para Lisboa».
Quando a cena se passa na sessão de encerramento, por sua vez, voltamos a ter os agradecimentos, os elogios à organização e o louvor à oportunidade do tema, e voltamos a ter o lamento por não ter podido estar presente porque teve «um compromisso inadiável». E quando a conferência é no Porto a chegada em cima da hora (quando não atrasada) é explicada com um «vim agora de Lisboa».
Há pessoas que são mesmo importantes …

#Saladeestar

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