segunda-feira, 15 de maio de 2017

Que Poder é este?

12 de Maio. Fátima convoca-nos e uns quantos comparecemos.
Depois de uma mão cheia de horas (ou mais) de resistência e paciência, uma multidão de centenas de milhares de pessoas faz um silêncio quase sufocante.
Em uníssono cumpre-se o terço. Pai-Nossos, Avé Marias, Glórias. Intervalados com leituras serenas do Evangelho. Em português, árabe, italiano, espanhol, coreano, francês, alemão, polaco, ucraniano, inglês. A cada dezena erguem-se os braços ao Céu. O manto de velas ao som de «Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo» comove e aquece. De joelhos Francisco - o pastor vindo de Roma - fecha os olhos em absoluta intimidade.
Que Poder é este?

13 de Maio. Fátima mantém a convocatória e uns quantos voltamos a comparecer.
Mais horas de resistência e paciência acumuladas. A mesma multidão. Porventura ainda maior. Francisco entra com a descrição do peregrino.
A quem ergue o olhar, o que vê? A verdadeira universalidade da Igreja. Milhares de cartazes. Bandeiras do mundo inteiro. Talvez seja normal.
Do Algarve a Braganca. Normal. Estamos em Portugal.
Mas de todos os países onde se fala português. Do Brasil, a Angola, passando por Moçambique, indo à Guiné, a São Tomé e a Cabo Verde, e terminando em Timor (quantas bandeiras timorenses?). Também será normal. Alguns até viverão cá em Portugal. É normal.
Da Europa? Sim, quase todos. De Espanha (imensos), de Itália, de França, da Alemanha, da Irlanda, da República Checa, da Roménia, da Grécia, da Suíça, da Lituânia (que grande grupo), da Bélgica, da Polónia, da Ucrânia, da Rússia. Já nem sei quem mais ou simplesmente quem não estaria. Mas é também normal. Ou são ricos ou são muitos ou são vizinhos. É normal.
E da América Latina, quantos? Pois imensos, senão mesmo todos. Argentinos, brasileiros, mexicanos, costa riquenhos, uruguaios, colombianos. Do Panamá também. E da Venezuela. Tantos e tão impressionantes. Alguns com cartazes que nos gritavam com letra impressiva «SOS Venezuela». Mas também será normal. Poderão não ser ricos. Poderão ser de longe. Mas serão tantos que é normal alguns cá virem. E era a peregrinação do seu Papa.
De África sou de tal modo refém da minha ignorância que nem saberei distinguir de onde provinham tantos daqueles peregrinos. Vi do Quénia, da África do Sul, da Nigéria. E sei de tantos mais que não sei. Normal? Talvez. Afinal diz-se que é de lá que nos vem a força da evangelização de que tanto precisamos.
A Ásia não faltou. Aliás, fez-se representar em massa. Do Japão. Da China (tantas e tão visíveis as bandeiras da China). Do Vietname. Da Coreia do Sul. Estes os que eu vi e percebi de onde eram. Mas é sempre assim, é normal. São também tantos e alguns tão ricos, que é normal.
E é normal que da Austrália e da Nova Zelândia também venham muitos. Pelas mesmas razões. É normal.

E esta multidão, este mundo todo reunido, ao que vem? Por que se junta e aperta naquele recinto ameaçado por nuvens escuras rasgadas por um sol quente e inesperado? Por nada de especial. Por algo absolutamente normal.
Afinal, rezar, mais uma vez, o terço em absoluta serenidade e comunhão, não é fazer nada de especial. Desta vez, também em russo e croata.
Aquela multidão reza. Só reza e espera. E parece tudo suportar, para ali estar a rezar e a esperar.

E, finalmente, a missa, a canonização e procissão do adeus. É difícil compreender. E mesmo sem compreender é difícil esconder. Se não a comoção, pelo menos a dúvida. Uma multidão que se mobiliza. Que respeita os momentos. Que sabe fazer silêncio. Que reza em uníssono. Que simplesmente reza. No mais absoluto anonimato e transversalidade. Com algumas, poucas ou nenhumas horas de sono. Com escassa e mesmo nenhuma comodidade. Simplesmente reza porque quer rezar. Ali. Com aquela multidão universal e irmanada. Junto da Mãe comum («temos Mãe», gritava Francisco!) dirigindo-se ao Pai.
Que Poder é este?

Será tudo muito normal. Sempre normal. Mas de tão normal, será mesmo normal?

Que Poder é este?

#Jardim

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