quarta-feira, 25 de julho de 2018

Caros

Camarada para lá, camarada para cá. É quase um dialecto obrigatório à esquerda. Um qualquer congresso do PCP ou da CGTP (na CGTP diz-se congresso não diz?) o camarada ou o «caros camaradas» é uma espécie de «portanto» como auxiliar obrigatório de discurso. E ai de quem não gastar o termo! No PS já não é tanto assim, quer dizer, tratam-se por camaradas porque se querem identificar como de esquerda, mas em muitos casos soa a esforçado e pouco natural (olhamos aos actuais ministros e vemos quão artificial lhes ficará um «camaradas»).
À direita o termo é sobretudo o «caros companheiros» (quem não se lembra do António Pinto Leite no púlpito e em esforço a tentar acalmar os congressistas do PSD que apupavam Luís Filipe Menezes por causa do «sulistas, elitistas e liberais»? «Companheiros, companheiros!» gritava em vão).
Bem, mas o «companheiros» é um fraco oposto ao «camaradas». E se todos imaginamos um «camarada», ninguém se identifica com um «companheiro». Até porque nos dias que passam «o companheiro» faz as vezes, em português vergado ao socialmente correcto, da mulher ou do marido (fulano de tal e companheira, convida-se agora). Nem a fonética safa o companheiro (nisso o camarada é imbatível).
Outra alternativa ao «camaradas» é o «colegas». Mas se é verdade que «colegas» não tem a conotação do camaradas, esbarra na boutade de que «colegas são as p…» (sempre se disse).
Nunca gostei do colegas, devo dizer. Sobretudo porque é um termo que à minha volta servia de alternativa ao «amigos». Na escola havia os que diziam «um colega meu» em vez de «um amigo meu», e eu sempre fui mais de amigos do que de colegas. Já sei que na profissão que escolhi fui cedendo em quase toda a linha (recorro generosamente ao «ilustre colega», ao «caro colega», ainda que sem a pose e a condição das primeiras vezes). É muito assim nas profissões do foro (ainda se diz profissões do foro, ou soa a antigo ou presunçoso?). Lamento mas o colegas chega a ter o seu quê de desprezo («– Quem é aquele? – É um colega meu.», é fraco não é?).
Eu tenho solução. Se não me revejo no camaradas. Se não me identifico com o companheiros. Se não adiro ao desprezo do colegas. Se não posso – reconheço que nem sempre dará – recorrer ao «meus amigos» (não pode ser como o Facebook em que temos milhares de «amigos»). Fico pelo caros. Cabem todos sem conotação, sem desprezo e com boa fonética. Não concordam meus caros?
#Saladeestar

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