sexta-feira, 6 de julho de 2018

Seja com quem for. Venha quem vier.


Não posso ser mais avesso ao deslumbre. E sou mais ainda quando não o sinto minimamente correspondido.
E o sentimento não muda por muito que em causa esteja uma personalidade interessante (não confundo).
A vinda de Obama hoje a Portugal tem os ingredientes todos do deslumbre não correspondido a que sou avesso. Está lá tudo. Tresanda a especial favor. Tresanda a pouca entrega. Tresanda a despacho e a negócio.
Eu não estou a dizer que acho mal que ele se faça remunerar principescamente (ainda que ache sempre estes honorários – por meia hora de doutas palavras – um ligeiro exagero …). O que estou a dizer é que devemos ser mais exigentes.
Se o objectivo é o efeito âncora (atrair mais participantes ao evento, poder dizer que o Obama é um dos oradores, poder dizer que o Obama veio ao Porto, e com isso elevar a relevância e o impacto do evento) eu sei que ele se basta com um «toca e foge» (tão depressa aterra, como fala, como se vai embora). Mas é curto. Muito curto.
Demonstra desinteresse do próprio (nem sequer se interessa por conhecer o lugar que o convida, que se mobiliza para o ver e que se esforça por lhe pagar principescamente). Demonstra qual é o seu foco (despachar e cobrar). E põe a nu a nossa fragilidade (somos anfitriões fáceis e pouco exigentes).
Posso estar a ser injusto (às tantas, ainda que por alto preço, o homem está mesmo a fazer um esforço para cá vir). Mas eu não sinto o mais pequeno deslumbre em circunstâncias como estas. Seja com quem for. Venha quem vier.

#Saladeestar

Sem comentários:

Enviar um comentário