sexta-feira, 6 de maio de 2016

A política e a natalidade

A agenda da natalidade (não confundam com a agenda pessoal de fertilidade...) tem servido, infelizmente, para o exercício mais primário do jogo político-parlamentar.
O diagnóstico é tão objectivo - faltam nascimentos e crianças em Portugal, está em causa a sustentação da segurança social e a dimensão do nosso mercado - que a consensualização à volta de medidas ao serviço dessa causa deveria ser quase um impulso colectivo. Infelizmente não foi e continua a não ser assim, por muito que o problema se agrave e se revele cada vez mais premente fazer alguma coisa.
Típica e estupidamente prevalecem duas razões para o impasse.
A primeira é ideológica. Vá-se lá saber porquê, a nossa esquerda associa à direita a agenda da natalidade. É que estaremos sempre a falar da maternidade, do incentivo aos nascimentos, da família (sendo a família convencional - homem / mulher - a que tem significativa propensão para gerar crianças). Tudo termos ou conceitos que causam urticária à esquerda, por nos reconduzir ao elementar das relações familiares e sociais. E dessa urticária brota a resistência, por muito que ela não lhe aproveite - nem a ela nem a ninguém.
A segunda razão é de ordem puramente estratégica e política, no seu sentido mais desprezível. Com a alternância política, cada facção tem disposto das maiorias aparentemente suficientes para avançar com medidas concretas de promoção da natalidade, sem que a resistência da oposição represente um verdadeiro obstáculo. Os mandatos, todavia, sucedem-se, as maiorias e os protagonistas mudam, e apenas nos são servidos pequenos paliativos, acompanhados de chavões propagandistas. À clareza de intenções e de medidas na oposição sucede-se uma cruel tibieza no Governo.
Já sabemos. As circunstâncias condicionam. Os constrangimentos orçamentais justificam tudo. E cada liderança, em concreto, tem as suas próprias prioridades de entre aquelas que representam o seu partido.
Eu diria que as circunstâncias revelam com mais clareza as verdadeiras prioridades (porque são esses os momentos de fazer opções).
Ora, esta dança entre oposição e poder torna irresistível a ambos os "lados" expor as contradições entre as declarações e as ações. Pouco interessa se as propostas de acção são boas e até indiscutíveis. Pouco releva a urgência dessas acções. O que verdadeiramente importa - chega a dar um prazer indisfarçável - é expor as contradições, denunciar a hipocrisia, desmascarar a autoridade moral. No fundo, não há como desperdiçar um bom número político.
Não teria problema, não seria gravíssimo ou mesmo criminoso, se o interesse de todos não estivesse a ser desprezado, agravando o estado de urgência que vivemos.
Qualquer pessoa, parcial ou imparcial, de direita ou de esquerda, no governo ou na oposição, e desde que consciente, só pede 3 coisas:
1. Deixem-se de jogos e de tretas e aprovem medidas a sério de apoio à natalidade.
2. Deixem-se de jogos e de tretas e aprovem medidas a sério de apoio à natalidade.
3. Deixem-se de jogos e de tretas e aprovem medidas a sério de apoio à natalidade.
(Não necessariamente por esta ordem, como se costuma ressalvar).
#Saladeestar
#Escritório

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