segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Como vi (e vivi) o congresso do CDS (I)

Entre artigos, debates, posts, entrevistas, e imenso ruído, não vi (ou pelo menos não me apercebi) uma «narrativa» (como agora se diz) na qual me reveja e que traduza, seja nos pressupostos, seja no resultado, o que verdadeiramente se passou no Congresso do CDS.
Não faltam versões e, devo dizer, todas elas serão boas para explicar (nalguma parte) o que esteve na génese do resultado. Desde a ideia de que vingou a leitura do partido descaracterizado em matéria de costumes (seja justo ou não), ou a da novel concorrência da Iniciativa Liberal e do Chega, ou a da falta de coesão interna e uma ineficiente ligação às estruturas locais do partido, ou a do voto útil que se sobrepôs à mensagem de utilidade do próprio CDS. Ou de outras que certamente se poderão erigir. Eu direi a tudo que sim e que não. Porque o que gerou, ou o que uniu, o eleitorado do congresso foi o chamamento à mudança, o instinto de novidade, um certo regresso à afirmação e ao carisma. Não foi tanto uma questão de conteúdo (porque se fosse não seria suficiente). Não foi tanto uma questão de confusão da mensagem política (porque se fosse não seria suficiente). Não foi tanto uma reacção aos métodos internos (porque se fosse não seria suficiente). E não foi tanto uma ou outra leitura dos resultados eleitorais (porque – não sei se já disse – se fosse não seria suficiente).
O que vingou no Congresso foi a ideia de que era urgente mudar. Porque em política a mudança é um valor por si. E no caso, até veio acoplada ao instinto de sobrevivência (o mais forte dos cimentos). É que só a mudança pode evitar ou atenuar a crise de credibilidade, o desgaste, a sensação de inutilidade.
Naturalmente que em face de um congresso sob este signo (que se percebeu inelutável às primeiras trocas de olhar e aos primeiros suspiros), seriam inevitáveis várias ilacções. Desde logo, o quão inglório seria o esforço do João Almeida. Porque já não era «o João Almeida» – era o João Almeida como tantos outros que não consentiam o sentimento quase sôfrego de mudança. Percebeu-se também que era indiferente (e daí até pouco inteligente) convocar dificuldades caricaturais, críticas fundas, quase desejos, a quem pudesse, de facto, representar essa mudança. E percebeu-se ainda – talvez o que se percebeu melhor – que a quase desorientação de quem não participava desse ímpeto de mudança (e aqui incluo tanto os de dentro como os de fora, entre jornalistas e comentadores) estava a impedir (ou a não ajudar) um resultado melhor ou, pelo menos, mais promissor.
De repente já não interessava (a mim já não me interessava) os apelos sofridos de quem percorria o púlpito e de quem circulava pelos microfones e mini estúdios mediáticos. Não apenas representava uma leitura desviada do pulsar do congresso como funcionava, aliás, ao contrário.
Achei mesmo piada (não o consigo esconder) como nem sequer havia (e não há) ligação entre o CDS que ali ditava o curso do partido e o CDS desejado e conhecido nos microfones e comentários.

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