sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A caminho do congresso do CDS (II)

Por força das circunstâncias (da «geografia» partidária imposta pelo PREC) a importância do CDS – mais premente nos anos fundacionais, mas que perdurou praticamente até hoje – esteve em parte muito relacionada com a capacidade (diria mesmo a missão) de atrair para o regime e para o «jogo» democrático (e, portanto, para a moderação das regras e dos mediadores da representação próprios da democracia) uma faixa importante e sociologicamente transversal da sociedade que, por diferentes motivações, não sentiria essa «atracção» pela moderação e pluralismo democrático. Se é certo que foi liderado por convictos democratas (e essa convicção foi fundamental), nem todo o «povo CDS» partilharia (ainda) dessas certezas, pelo que a sua adesão e enquadramento terão sido um dos valiosos contributos do partido para o sistema e para o país. Naturalmente que essa missão se cumpriu (e foi cumprindo) por apelo a ideias e programas que espelhavam, para lá do próprio modelo de regime, a mundividência e as prioridades desse tal «povo CDS» (num equilíbrio sempre ambíguo entre a doutrina social da Igreja, a predisposição conservadora e o ímpeto liberal na organização da economia e do Estado).
Curiosamente (ou não) a actual crise eleitoral do CDS expõe, como nunca, essa sua importância histórica. Mas de igual modo revela como aquela missão não se completou completamente (assumo a redundância). É aí que germina, em certo sentido, o fenómeno do Chega e a ameaça eleitoral que este representa para o CDS. E, portanto, é também aí que se joga a premência da sua relevância. Está em risco aquela franja do eleitorado (que nunca se soube medir muito bem) para quem o genuíno pulsar democrático do partido e até o seu estilo moderado foram mais tolerados que secundados. Mas que, apesar de tudo sempre se sentiram acolhidos no CDS, em benefício de todos (a começar pelo sistema e pelo regime).
O CDS estar em risco é um risco. Para todos.

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