Por força das circunstâncias (da «geografia» partidária imposta pelo
PREC) a importância do CDS – mais premente nos anos fundacionais, mas
que perdurou praticamente até hoje – esteve em parte muito relacionada
com a capacidade (diria mesmo a missão) de atrair para o regime e para o
«jogo» democrático (e, portanto, para a moderação das regras e dos
mediadores da representação próprios da democracia) uma faixa importante
e sociologicamente transversal da
sociedade que, por diferentes motivações, não sentiria essa «atracção»
pela moderação e pluralismo democrático. Se é certo que foi liderado por
convictos democratas (e essa convicção foi fundamental), nem todo o
«povo CDS» partilharia (ainda) dessas certezas, pelo que a sua adesão e
enquadramento terão sido um dos valiosos contributos do partido para o
sistema e para o país. Naturalmente que essa missão se cumpriu (e foi
cumprindo) por apelo a ideias e programas que espelhavam, para lá do
próprio modelo de regime, a mundividência e as prioridades desse tal
«povo CDS» (num equilíbrio sempre ambíguo entre a doutrina social da
Igreja, a predisposição conservadora e o ímpeto liberal na organização
da economia e do Estado).
Curiosamente (ou não) a actual crise eleitoral do CDS expõe, como nunca,
essa sua importância histórica. Mas de igual modo revela como aquela
missão não se completou completamente (assumo a redundância). É aí que
germina, em certo sentido, o fenómeno do Chega e a ameaça eleitoral que
este representa para o CDS. E, portanto, é também aí que se joga a
premência da sua relevância. Está em risco aquela franja do eleitorado
(que nunca se soube medir muito bem) para quem o genuíno pulsar
democrático do partido e até o seu estilo moderado foram mais tolerados
que secundados. Mas que, apesar de tudo sempre se sentiram acolhidos no
CDS, em benefício de todos (a começar pelo sistema e pelo regime).
O CDS estar em risco é um risco. Para todos.
O CDS estar em risco é um risco. Para todos.
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