sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A caminho do congresso do CDS (III)

Um dos comentários usuais (talvez o mais recorrente) para quem nos vê de fora (e é sempre elementar ouvir e ver pelos olhos de quem nos vê de fora) é o de que o CDS acabou, está esgotado, já pouco interessa e, portanto, a discussão a ter no congresso sobre a nova liderança terá mais a ver com a escolha da comissão liquidatária. Pondo de lado os exageros (oxalá sejam), os wishfull thinkings e ressentimentos, talvez valha a pena tentar «traduzir» o que se pretende dizer com este vaticínio de desesperança quanto ao futuro do CDS.
Não estou nem aí (como dizem os brasileiros) para explicar o momento com os problemas de comunicação, com as circunstâncias próximas (um ou outro episódio em pleno ano eleitoral), ou com a difusão de ideias que se perderam entre si sem que o eleitorado as chegasse a perceber. Haverá, com certeza, uma parte do diagnóstico que se deve fazer nesse imediato do último ano (ou mesmo dois anos). Mas eu não apontaria para aí. Eu creio que o grito que nos sopram ao ouvido é mais uma acusação. A de que o CDS enfrenta um problema de desgaste e de credibilidade que mina a mobilização e atracção do eleitorado.
Vistas as coisas assim (porque me parece ser assim que nos vêem), a escolha deste fim-de-semana, antes até das qualidades e das mensagens dos candidatos (estou mesmo a dizer isto – antes das qualidades e das mensagens) tem de ser capaz de representar um travão naquele problema de desgaste e de credibilidade. E não vale a pena discutir muito a justiça desse desgaste e dessa credibilidade (que nem sequer se confundem). E, naturalmente, será vã a discussão de saber se é justa ou não a imputação desse desgaste (especialmente este) a uns e não a outros.
As coisas são como são, por muito desconcertante e pouco elaborado que possa parecer. É por isso que eu não enveredo na crítica às qualidades do João Almeida (claro que tem qualidades, e legitimidade, e experiência, e por aí fora). O problema (ou infortúnio) do João, porventura injusto, é que o momento político reivindica uma mensagem para fora que rompa com o desgaste. Sim o desgaste tem a ver com a continuidade – e nem é uma continuidade com este ou outro mandato, é antes a necessidade de um novo alento face aos últimos 10 ou 15 anos. O partido precisa de novas vozes, novas caras, novos protagonistas (o que pressupõe o recuo dos que estiveram especialmente na linha da frente). Porque se assim não for a sentença é quase certa (mesmo que se faça tudo bem, na mensagem, na estratégia, na postura interna). E não confundam, por favor, com um apelo ao afastamento de quem quer que seja. É simplesmente de necessidade de recuo que falo, sob pena de não conseguirmos sequer que nos continuem a ouvir.
Diria, a terminar, que em política há que saber ler o momento, as circunstâncias (também as pessoais), pouco interessando se são justas ou injustas. Parece-me, em boa verdade, que o João (e quem está na primeira linha com ele) não está a saber ler com a frieza e o distanciamento que o momento exige.

Sem comentários:

Enviar um comentário