quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Falta de moção (com n)

Estranhamente (ou não) isto do bom senso em política – que devia ser elementar – rareia nos momentos menos recomendáveis.
O CDS (refiro-me ao CDS, mas não faltarão exemplos noutras paragens) está em plena discussão para escolher, em congresso, o seu novo líder. O momento não é bom – é mesmo de urgência (se não de sobrevivência) – e imagina-se um congresso com a tensão própria.
Estão confirmadas 5 candidaturas o que já faz antecipar um debate demorado (serão 5 candidatos, com as suas «moções», mais os seus legítimos apaniguados que os defenderão no púlpito). Facilmente se antecipam horas de debate. E, convenhamos, é a eles e às suas intenções que o congresso se dedicará.
Sucede, contudo, que para além dos 5 candidatos (não é preciso sublinhar que serem 5 é muito) com as suas «moções globais», há mais 7 (sete!) «moções globais» e 11 (onze!) «moções sectoriais». Quer dizer, ao lado da discussão da liderança (que é a que interessa no momento) vamos ter 12 moções globais e 11 moções sectoriais, com os seus subscritores a gozarem dos tempos regimentais de intervenção antes ainda dos demais congressistas. Estão a ver não estão? O Congresso vai ser insuportável porque não bastando já os 5 candidatos, uns quantos militantes (alguns «notáveis») acharam que estamos todos interessados nas suas opiniões e nas suas moções – globais ou sectoriais – às quais dedicaremos horas infindáveis de intervenções. E eu até tenho pudor em sugerir que isto das «moções» é um palavrão pomposo para documentos muito «importantes» sobre os quais os militantes, e sobretudo os congressistas, vão meditar depois de os lerem integral e aturadamente …
Pobre púlpito. Pobres congressitas. Pobre congresso.
Porque se não há falta de moção há seguramente falta de noção.

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